Peça-Chave #49: Não caia no hype da Inteligência Artificial
IA é importante, mas não faz mágica. Seja crítico nessas horas.
A Inteligência Artificial vai mudar tudo.
Pessoas acreditam que ela mudará o mundo para sempre, ou destruirá a todos. Vários empregos aparentemente deixarão de existir. No marketing, o analista de SEO, redator, analista de dados, designers e não sei quantos outros empregos estão com os dias contados.
Poderíamos até viver de nossa arte, se a IA também não fosse acabar com os pintores, cinegrafistas, atores, fotógrafos, etc.
Corram para as montanhas.
Obviamente, não acredito nisso, mas todo dia sou obrigado a ver alguma postagem no Twitter ou Instagram de alguém fazendo essas previsões absurdas. Afinal, é assim que se consegue cliques.
Mas, acima de tudo, essa avalanche de previsões é um grande indicador de que alguma tecnologia está no auge do seu hype. Lembra-se que a web3 iria acabar com redes sociais, viveríamos no metaverso e NFTs substituiriam o mercado de arte?
Exceto pelo fato que muita gente foi enganada e perdeu muita grana, essas tecnologias não mudaram muito o mundo, apesar da promessa.
Com IA é diferente pois, apesar do hype, já existem ótimos casos de uso que fazem parte do nosso dia a dia. Eu mesmo já uso IA diariamente, principalmente ChatGPT, Midjourney e, claro, Looqbox.
Só que eu preciso admitir algo: hypes me incomodam. Parece que a racionalidade desaparece da mente das pessoas e o novo objeto brilhante se torna uma promessa de algo que irá mudar tudo.
E nesse momento o FOMO ataca fortemente. “Eu não vou ser o único idiota que vai ficar de fora disso, vai que muda tudo mesmo?”. Isso é humano. Irracional, mas humano.
Essa irracionalidade faz com que vários princípios básicos de como se comportar, ou como tomar boas decisões no trabalho (e fora dele), sejam ignorados. Veja alguns exemplos - comentados - só das últimas semanas:
Google ignora qualidade para não ficar para trás na corrida da IA
Um dos grandes princípios do Google é tentar trazer a melhor informação possível em sua busca. Isso significa trazer informações corretas de fontes confiáveis. Há anos EEAT é uma sigla mencionada frequentemente por profissionais de SEO.
Mas desde a semana passada o Google parece ignorar esses princípios. Eles finalmente lançaram o “AI Overview” na busca, uma espécie de resumo por IA tentando responder o que foi perguntado.
O problema é que esse resumo está frequentemente errado. E não por pouco. Para mim é inconcebível que isso tenha sido lançado pela mesma empresa que é famosa por fazer milhares de testes só pra mudar um pixel de lugar no site.
Desespero é o nome.
E ele acredita que piadas clássicas são verdade:
Bem, são exemplos infinitos e por enquanto só em inglês, então não quero nem ver quando chegar ao Brasil, onde 90% do conteúdo gerado na net é zoeira e a IA será treinada nisso.
Um problema particularmente grave dessa situação é que as resposta vem direto do Google, ou seja, é como se ele validasse aquela informação. Na busca tradicional, é o meu papel definir se o site que estou olhando é confiável e, em muitos casos, comparar resultados.
É o pânico e o hype destruindo o site mais famoso da Internet enquanto assistimos.
Scarlett Johansson diz não para OpenAI, mas eles só ignoram
Eu consigo imaginar que quando você é o CEO da empresa mais quente dos últimos anos, o ego e a arrogância devem subir um pouco à cabeça. Deve ser difícil aceitar um não, afinal, você está revolucionando o mundo.
Talvez tenha sido isso que aconteceu com Sam Altman, CEO da OpenAI, após a Scarlett Johansson não ter autorizado (duas vezes!) o uso de sua voz na última versão do ChatGPT e ele basicamente ter ignorado a atriz.
Na prática, segundo a OpenAI, não é a voz dela, mas é tão parecida que ela soltou um longo comunicado repudiando a atitude da empresa e disse que já acionou os advogados. A empresa continuou negando, mas tirou a voz do ar de qualquer jeito. Você pode ver o vídeo aqui e tirar suas conclusões.
Toda essa obsessão com a Scarlett vem do filme “Her” (Ela), em que toda a trama gira ao redor do personagem principal que se apaixona por uma IA que é interpretada por ela. Alguém poderia até afirmar que é coincidência, mas o Sam Altman fez questão de deixar claro que não:
Hardwares que mal funcionam, mas tiveram investimentos milionários
O AI Pin da Humane e a R1 da Rabbit são dispositivos construídos para serem interfaces com a Inteligência Artificial, assim como assistentes que estão sempre com você. E a história das duas é igual: ambas levantaram muito dinheiro (US$230 e US$20 milhões respectivamente), e ambas lançaram produtos que basicamente não funcionam.
O AI Pin conseguiu ganhar o título de “pior produto que eu já avaliei” do famoso Youtuber Marques Brownlee. Isso sim é uma conquista! Já o Rabbit R1 também recebeu avaliações similares. Basicamente ele não consegue fazer nada direito.
Além de não chegarem nem perto do que foi prometido, outra coisa básica que faltou nesses produtos foi o clássico teste com usuário. Parece que eles simplesmente não se perguntaram se a interface deles era melhor que a de um celular, que é o dispositivo que todos carregamos no bolso.
Eles simplesmente jogaram um IA no Pitch e no nome, por causa disso levantaram milhões de dólares e aí depois entregaram o que deu.
Investidores também caem muito em hype, muito mais do que você imagina.
Conclusão
Eu juntei dezenas de outros exemplos como esses dois, mas como essa é uma Newsletter e não um blog post de 10 mil palavras, vou parar por aqui
A mensagem que eu quis passar aqui é: fique sempre atento para ver se alguma novidade é um grande hype ou não, e desconfie de grandes promessas e previsões. Geralmente elas acabam virando distrações para você fazer um bom trabalho básico e bem feito, que é o que costuma gerar resultados.
Enquanto isso fique de olho nas novidades, claro, para saber o que pode ter impactos reais e positivos no seu trabalho e sua vida. Mas não há pressa.
Ter um olhar crítico é uma habilidade indispensável.
Nossa que observação maravilhosa sobre esse tema.
Enfim li um conteúdo sóbrio a respeito deste tema 🙌🏼