Peça-chave #66: As palavras do ano
Apertem os cintos, 2025 chegou e nada será como antes.
Feliz ano novo!
Estamos entrando em 2025 a minha opinião profissional e pessoal, depois de muito estudo e consideração é que “tá tudo muy loco”.
Por isso, nessa edição News vou (tentar) ilustrar como 2024 foi o ano em que efetivamente as redes sociais deixaram de ser sociais, como isso está radicalizando o mundo, e como a IA só vai piorar as coisas.
(Eu descobri, curiosamente, que as “palavras do ano” eleitas por dicionários, faculdades e outros grupos, são uma ótima maneira de se fazer essa análise)
Ah, mas como sou um eterno otimista, também terminarei o texto com minhas ideias de como sobreviver a isso tudo, e como há chances das coisas melhorarem.
Meu primeiro pensamento é: as redes sociais têm que acabar.
Se você brigou com algum familiar nesse natal, provavelmente os algoritmos tiveram algum papel. Aquele tio que insiste em alguma “fake news” é verdade, ou se radicalizou a ponto de ser impossível ter uma conversa decente. Quem não tem?
A citação abaixo diz muito hoje em dia:
"Se eu conheço uma das suas opiniões e, a partir dela, consigo prever com precisão tudo o mais que você acredita, então você não é um pensador sério."
(escutei em um podcast, depois achei no Twitter, não sei o autor original)
Se alguém me contar sua opinião sobre carros elétricos chineses e, a partir dela, eu deduzir sua visão sobre home office, feminismo e escala 6 por 1, infelizmente essa pessoa não está pensando, mas adotando a identidade de algum grupo, sem se questionar.
Ela foi vítima de “brain rot” (algo como “atrofia cerebral”) que foi eleita a palavra do ano pela Universidade de Oxford. Seu significado explica muito o que aconteceu com o mundo em 2024:
[Brain Rot é] “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (principalmente conteúdo online) considerado trivial ou pouco desafiador”
É um jeito de dizer que ficar o dia todo em redes sociais, sem consumir nenhum conteúdo realmente aprofundado está ferrando com nossas cabeças. Claro, esse termo é muito usado para criticar a Gen Z e seus memes (sempre sobra para os jovens), mas a verdade é que ele também afeta os mais velhos com temas muito mais sérios.
Quem diria! Não dá um “ânimo” para o futuro?
Além disso, os algoritmos são incentivados a gerar engajamento, afinal, quanto mais tempo uma pessoa passa na rede social, mais anúncios ela verá e mais dados ela está fornecendo. E o que mais gera engajamento? Polêmicas.
Não é à toa que outra palavra do ano, agora eleita pelo dicionário Merriam-Webster, foi polarização:
"divisão em dois opostos nitidamente distintos; especialmente, um estado em que as opiniões, crenças ou interesses de um grupo ou sociedade deixam de estar distribuídos ao longo de um contínuo e se concentram em extremos opostos."
E tudo isso está diretamente associado à terceira palavra do ano que trago para vocês, dessa vez eleita pelo Dicionário Macquarie, da Austrália: enshittification (eu traduzo como merdificação), que significa:
A deterioração gradual de um serviço ou produto causada pela redução na qualidade do serviço prestado, especialmente em uma plataforma online, e como consequência da busca por lucro.
O excesso de anúncios, as fake news e conteúdos polêmicos ganhando destaque, clickbaits sem valor feitos somente para engajamento. Tudo isso é consequência da merdificação, que incentiva o brain rot e gera a polarização.
Causa → Consequência → Consequência de segunda ordem
Para tacar gasolina nesse incêndio, entra em cena a IA generativa, que aumentou drasticamente a quantidade de volume sendo publicado nessas redes (e fora delas). E para piorar a situação boa parte desse conteúdo é criado exatamente para agradar os deuses algorítmicos.
Ou seja, o compromisso com verdade ou qualidade estão em segundo plano e o que importa são curtidas e compartilhamentos. Com máquinas entupindo nossos feeds, o que acontece com quem é produtor de conteúdo ou profissional de marketing nesse mundo?
Deixe-me compartilhar um pouco do meu otimismo com o futuro então: os tipos de conteúdos gerados por IA possuem um custo que tende a zero, logo, seu valor também segue essa tendência uma vez que não há mais um diferencial.
Afinal, o que impede o próprio Google de já criar todo o conteúdo que ele irá mostrar na SERP, ou o Facebook e Instagram de criarem agentes de IA que vão fazer o papel de usuários (que já é realidade)?
Simples: nós valorizamos conteúdos autênticos, que dão trabalho para serem feitos, mostram opiniões novas e existem fora da Internet. Então, como seres humanos, teremos que focar em criar o que a IA não consegue.
Pode parecer um problema, mas na verdade é libertador. Nos últimos anos gastamos muito tempo criando conteúdos de “pastelaria”, só para cumprir os requisitos dos algoritmos. Escrever uma descrição de produto de 500 palavras só para ser “bom para SEO” ou publicar carrossel no Instagram, mesmo não sendo o formato ideal, porque o algoritmo gosta.
Esse trabalho maçante não será mais necessário, é um alívio.
Podemos focar em diferenciação real, qualidade e criatividade. IA vai nos ajudar, claro, mas vai deixar tudo muito melhor (para quem entende de marketing).
Só o fato das pessoas já estarem prestando atenção nisso, a ponto de Brain Rot, Polarização e Enshittification serem as palavras de 2025, já mostra que em breve o público irá cobrar mais algo diferente - e melhor.
Na próxima edição entro em detalhes de como se destacar nesse mundo dominado por robôs!
E se já quiser dar um primeiro passo, só clicar no botão abaixo e conhecer a PbyP School, minha escola online com 100+ horas de conteúdo:
E por falar na PbyP:
Quem me segue nas redes sociais deve ter notado o quanto estou ausente de lá, e isso tem muito a ver com o conteúdo que acabei de falar na newsletter, além de eu ter um emprego que me demanda tempo e, ainda bem, garante um certo conforto financeiro (eu tenho que pagar meu financiamento!)
Mas isso não quer dizer que a PbyP está parada. Ela está cumprindo bem o propósito de ajudar a educar o mercado, que é uma das minhas missões pessoais. A Adriana está cuidando o dia-a-dia, eu ainda escrevo newsletters (que adoro) e em 2025 espero continuar fazendo conteúdos longos em outros formatos.
Mas olha que legal. Desde Outubro de 2023 até hoje, 06 de janeiro de 2025:
40.609 pessoas se matricularam
16.733 estão com algum curso em andamento
17,23% dessa turma concluiu algum curso
4,77 (em 5) é a nota média de 1322 avaliações
A PbyP não me deixa rico, mas cobre todos seus gastos e me dá uma satisfação imensa. Isso importa, não importa?
Até semana que vem.
gostei do conteúdo! discordo da parte do "pensador sério". pode ser uma consequência de um conjunto coerente de crenças ou de ter como base uma estrutura teórica que foi desenvolvida ao longo de décadas. mas concordo que a diferença está em como essas opiniões foram formadas — se por reflexão ou por conformidade. sobre a parte de brain rot, gostei muito deste texto: https://zine.kleinkleinklein.com/p/unplugging-is-not-the-solution