Peça-Chave #54: Lições de marketing na prática
O que acontece quando você lança um ebook em 2024?
Semana passada lancei um ebook.
Se eu seguisse os conselhos da maioria dos perfis que dizem entender de marketing, nunca teria feito isso. Afinal, ebooks morreram, e quem lê conteúdos longos em 2024?
No meu caso, 325 pessoas baixaram meu conteúdo, até 10 de julho.
À primeira vista, o que isso te parece? Sucesso, fracasso?
Deixe-me aproveitar esse lançamento e essa pergunta para te guiar sobre como (eu acredito que) devemos pensar o marketing digital em 2024 e nos diferenciar no mercado.
A maldição do marketing digital
Hoje procurei por “marketing digital” no Reels e posso dizer que ele está sofrendo, coitado. De todos os conteúdos que apareceram, 90% eram promessas de ganhos rápidos e fáceis. Alguns exemplos:
Crie três vídeos por dia com IA, publique no Youtube e consiga faturar 100 mil reais.
Revenda um curso (PLR), poste fotos de vida luxuosa nos horários específicos, ganhe R$10 mil por mês. Esse vídeo tinha 99 mil curtidas.
Use o Capcut + Chatpg e ganhe 19 mil reais fácil na Kiwify
Além disso eu descobri um fenômeno chamado “Crianças no Marketing Digital”. E, claro, um Enzo (Marques) me prometeu que “fatura todos os dias mesmo sendo menor de idade”.
Bem, por mais que eu me esforce, nunca vou conseguir esse feito, já que não sou o Benjamin button. Mas, acima de tudo, é um absurdo essas crianças serem exploradas desse jeito (óbvio que tem algum adulto por trás).
O que todos esses perfis possuem em comum?
Receitas prontas, que sempre funcionam, ignorando contexto
Promessa de ganhos garantidos
Uma obsessão por métricas de social como curtidas e visualizações.
Eles gritam na nossa cara “você não precisa entender o que está fazendo, basta copiar meu passo-a-passo”. É a glorificação da preguiça. E ignorância.
E, acima de tudo, não é marketing.
Se existe uma regra clara do marketing é que ele não possui fórmulas nem respostas prontas, é altamente dependente de contexto e requer tempo para ser bem feito. Ele é feito de princípios (leia mais sobre isso na edição #39)
Mas agora o marketing digital está amaldiçoado a ser sempre confundido com essa galera dos atalhos. E não há exorcismo capaz de resolver esse problema.
O que nos resta é continuar fazendo um bom trabalho.
Bem, toda essa crítica foi somente para dizer que sim, 325 downloads de um ebook é um ótimo resultado para mim e para a PbyP. Porque…
Tudo é relativo
Algo essencial no marketing é entender que nem todo seguidor, nem toda conversão, são iguais. Alguém que te segue em uma rede social vale muito menos (mas muito mesmo) do que alguém que assinou seu podcast. E, na minha experiência, todos valem menos do que alguém que assinou sua newsletter.
Qualquer tipo de interação nas redes sociais é rápida e superficial. Tem o seu papel, claro, de aumentar engajamento e reconhecimento de marca, mas nem se compara com alguém baixar e ler um ebook seu.
Meu ebook tem pouco mais de 5 mil palavras e é denso de conteúdo. Se 50 pessoas lerem o conteúdo (sendo pessimista), eu terei tido um impacto mais valioso do que 5 mil curtidas em qualquer reel.
Valioso para mim, pois são 50 pessoas super engajadas e, provavelmente, mais alinhadas com meu conteúdo, mas valioso para as pessoas, pois é um conteúdo profundo e que pode realmente ajudá-las na carreira.
Isso ajuda minha marca a crescer e, claro, a atrair novos alunos pagantes para a plataforma. Afinal, estou mostrando para eles minha experiência no marketing, distribuindo conhecimento gratuitamente.
O número absoluto 325 é muito bom para a PbyP também, uma empresa que são basicamente duas pessoas (eu + Adriana), que fazem outras coisas da vida. Estimo que cerca de metades dessas conversões são novos leads.
Se fosse nos meus tempos de Rock Content, seria um desastre.
Tudo é relativo.
Então ao invés de se comparar somente com os outros, dê muita importância em se comparar com seus resultados passados. Isso sim mostra progresso.
Nem tudo é (diretamente) mensurável
Coisas que eu sei sobre o meu ebook:
233 downloads feitos via Landing Page
92 downloads feitos via ManyChat (que usei pela primeira vez!)
Coisas que eu não sei:
De onde vieram as 233 conversões da LP
O email de quem fez download via Manychat
O número exato de novos leads
Seria melhor se eu soubesse de tudo? Sim. Dá pra melhorar? Sim. É possível saber isso tudo? Não. Isso me incomoda? De jeito nenhum.
Cerca de 10 anos atrás eu (e o mercado) acreditava que tudo precisava ser medido, com atribuição perfeita, para podermos tomar decisões e medir o resultado das ações de marketing.
Isso é uma ilusão. Nunca foi possível medir exatamente de onde vem cada conversão, mas caíamos no conto dos números precisos. Falo disso na edição #36. É claro que acompanho vários números medidos diretamente, mas já fiz as pazes com o fato que eles são incompletos. Em 2015 seria um crime.
Hoje eu monitoro várias coisas indiretamente, como o crescimento de assinantes após algum conteúdo meu viralizar, por exemplo, ou eu palestrar em um evento. Essas métricas, como incrementalidade, são antigas, úteis, mas tínhamos nos esquecido dela.
Elas são importantes para acompanhar o crescimento da marca, a disponibilidade mental, e outros indicadores de marketing tradicional que são essenciais também no digital (afinal, é tudo marketing)
Me aprofundo mais sobre o assunto nesse blog post aqui.
Conclusão: nada morre no marketing, só muda
Nós do marketing temos a mania de matar tudo que é antigo, como se no momento em que surge uma nova técnica, canal, ou formato, o resto automaticamente parasse de funcionar.
As redes sociais mataram os blogs em 2010, vídeo matou o texto escrito em 2015, o Whatsapp matou o email em 2020 e a IA vai matar tudo em 2025.
Balela.
Na PbyP e, em escala maior, na Rock Content, o email ainda é o principal canal de aquisição de clientes. Mas eles funcionam bem, principalmente na Rock, pois ela é uma marca super estabelecida.
Quando você é uma marca estabelecida, as pessoas estão dispostas a ler seu conteúdo. Curto, longo, vídeo ou texto. Não podemos achar que o formato é mais importante que a essência, um erro comum dos gurus de marketing.
Eu estou há mais de 10 anos publicando conteúdo, e tenho vários seguidores que gostam muito do que eu posto. Então não vou deixar de fazer um ebook - que é um formato valioso - só porque a “moda” é outra coisa.
Escrevi como costumava fazer em 2013, divulguei como nunca tinha divulgado antes (primeira vez que usei Manychat, divulguei no Reels, etc), medi de uma maneira diferente.
Ou seja, nada morreu, só mudou. Como sempre.
Até a próxima.
Você é inspiração, e a maioria dos gurus do MKT desconhecem os fundamentos do MKT. É muita balela, mas a maioria quer muita balela, por isso que dá match.
Sempre sábio em tudo que escreve.